quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um aniversário diferente

Desde que eu fiz 16 anos eu fiquei um pouco neurótica com esse acontecimento chamado festa de aniversário. Eu nunca tinha parado pra pensar no por que disso até ter a ideia de escrever esse post. Acho que cheguei à raiz do problema simplesmente lembrando que no ano que eu fiz 15 anos, e estudava em colégio particular, muitas pessoas que eu conhecia alugavam discotecas e faziam super festas de 15 anos, fui a muitas delas (inclusive participei de um bolo vivo), mas não tive a oportunidade de fazer a minha (maldita – ou bendita – Oktoberfest que costuma estar acontecendo quando faço aniversário), não que meu aniversário tenha sido triste por causa disso, me diverti aos montes na Oktoberfest.

No ano seguinte, por um milagre do calendário meu aniversário não iria ser na Oktoberfest, então resolvi dar uma festa. Já que eu não tinha feito festa aos 15, achei justo aos 16 usar vestido branco, salto alto e coroa na cabeça (refletindo agora vejo que não fazia muito sentido, afinal de contas a festa era numa associação, em uma churrasqueira ao ar livre no meio de um bosque...), a festa foi muito boa, mas não sei se posso dizer que o desfecho também foi muito bom, já que o desfecho foi minha cara dentro do bolo que a minha mãe tinha gasto uma fortuna para comprar. Apesar disso na época, do meu ponto de vista, a festa tinha sido um sucesso. Depois disso, nos anos seguintes sempre planejei algo, seja um mega esquenta no meu salão para a Oktoberfest, seja uma festa para as minhas amigas meninas com várias bebidinhas (jello shots, gummy bears, batidas e etc). Honestamente essa última festinha das meninas foi a que eu mais gostei, e foi ano passado quando fiz 20 anos.



Meu aniversário é dia 25 de outubro, sim eu postei dia 27 e achei melhor não comentar nada sobre isso. Foi a primeira vez longe dos amigos de longa data, familiares, e do povo brasileiro que faz parte da minha vida em Blumenau. Pela primeira vez em seis anos eu não estava com aquelas borboletas todas voando pela minha barriga por causa do extremo nervosismo de ter preparado a festa e torcer que ela corresse como o esperado. Pela primeira vez em seis anos eu não sabia o que queria fazer, ou com quem. Tudo bem, estou sendo dramática, essa última frase é mentira hahaha O que eu queria é ir para Barcelona (porque sim, dia 25 de outubro foi um sábado!), mas a pessoa que eu queria que estivesse comigo em Barcelona não podia nessa data então acabamos atrasando um pouco os planos, e fomos para Barcelona dia 07 de novembro e voltamos no dia 10. O que me faz voltar ao drama anterior de: o que eu ia fazer no dia, mais especificamente na noite, do meu aniversário.

O que rolou no dia foi mais ou menos isso: fui ver o pôr-do-sol com a pessoa que eu mais queria que estivesse comigo neste dia no ponto mais alto de Braga, e depois disso seguimos para o Porto (cidade que é a minha paixãozinha aqui em Portugal) para uma noite diferente das que costumamos passar aqui, jantamos, tivemos aquele momento romântico a beira do rio, andamos pelos bares, e claro bebemos uns copos. Voltei relativamente cedo para Braga, por volta das duas ou três da manhã, e fui no Skype falar com as pessoas que mais fazem falta durante a minha estadia aqui: minha família, que preparou um bolo com velinhas, brigadeiro e balões pra mim! Nem preciso dizer o quão emocionada fiquei com aquilo tudo (claro que depois bateu o sentimento de gordinha:grrr não vou comer o bolo nem os brigadeiros hehe). E acabou encerrando assim o dia no qual eu faço anos.

Eu até tinha pensado em no final da história fazer uma super lição de moral dizendo que o que vale não é a festa, o quanto de álcool você vai beber, ou quantas pessoas vão estar com você, e por mais que eu quisesse ter mudado de planos sobre essa lição de moral, é impossível não descrever o que eu percebi a partir daquele dia, e como eu via esse dia de uma forma que agora para mim parece tão superficial... A verdade é que nenhuma das três coisas que eu citei acima importam se você não está com quem realmente quer em algum lugar que te faça bem. Pela primeira vez enxerguei que por mais que seja meu aniversário eu não preciso estar rodeada de várias e várias pessoas e com um teor alcoólico relativamente alto para a data ser super importante e especial. Por mais mesquinho que pareça, acho que as palavras certas são: eu não preciso virar o centro das atenções da vida dos meus conhecidos pro dia ser melhor, afinal de contas, alguns deles só comparecem na festa por causa da festa. O que eu quero é ver o sorriso no rosto das pessoas que eu amo por estarem comemorando mais uma vez essa data comigo, pessoas sinceramente felizes por eu estar aqui no planeta Terra por mais um ano. Preciso estar em um lugar especial, um lugar que me faça bem, ou fazer algo diferente do que costumo fazer, seja visitar um lugar novo, ou fazer algo diferente naquele mesmo lugar que você acha que já conhece como a palma da sua mão. E claro, quero carinho das pessoas que eu amo, seja fisicamente, ou “tecnologicamente”. Mais uma lição do intercâmbio, mais uma lição para a vida.



By the way, acho importante citar que: Barcelona foi incrível, tive o digno jantar de aniversário comendo paella e tomando sangria, me apaixonei por aquela cidade, com certeza um lugar para voltar mais uma vez.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Maldito captcha!

Aqui em Braga, pelo menos para os intercambistas, dia de sair é durante a semana. Desde que cheguei aqui não consigo listar mais do que cinco sextas-feiras ou sábados que eu saí para “balada”. Nesses dias, ou descanso, ou estou em alguma viagem, ou faço um programa bem de leve com as amigas ou com o namorado. Claro que acontece de em alguma sexta ou em algum sábado eu não fazer nada disso e simplesmente ficar em casa fazendo o que eu quiser. E duas semanas atrás, esse era o destino da minha sexta-feira...

Estávamos passando pela entrada do outono (acontecimento que agora foi derrubado por duas semanas de verão no meio do outono português). E tudo corria como deveria ser... folhas caindo no chão, casacos sendo retirados da mala (cheguei até a sair de sobretudo em uma noite durante a semana), cachecóis voltando a ter uso, cogitar se está frio suficiente para usar aquelas toucas fofissímas que você comprou aqui e estreando seu coturno novo (que você achou a um preço super camarada em alguma loja).

Sozinha em casa em uma sexta-feira a noite com um friozinho gostoso, o que você costuma fazer? Se enrolar nas cobertas e assistir Friends? Yaaay! Foi o que eu fiz, deitei no sofá que tenho no quarto, peguei uma mantinha daquelas bem macias, e fiquei nesse casulo na frente da tela do computador.



Eu estava bem feliz e conformada com o frio até que o inesperado aconteceu. Antes de carregar um episódio precisei colocar uma senha (captcha) no site, e me aparece: winter is coming. Até aí tudo bem, até que é um pouquinho normal um site português “adivinhar” que o inverno estava pra começar. Depois de digitar fiquei pensando como seriam meus dias no inverno daqui... Eu não queria ficar em casa, no casulo, como estava naquela sexta-feira. Eu queria estar dentro dos bares (que são quentinhos por serem climatizados), bebendo a minha cerveja. Aquele pensamento chegou a me deixar um pouco triste, até que lembrei: “É uma das primeiras vezes que faço isso no intercâmbio, não há mal...”, fiquei alegre novamente e vi o episódio.

Na hora de digitar o captcha para o próximo episódio, aparece: “i’m so freezing”. Não podia ser! Digitei aquilo indignada e sentindo mais frio ainda... Meu quarto parecia ter se tornado uma parte da Antártida. Meu único arrependimento é não ter tirado nenhum print pra vocês verem que não estou de brincadeira. Logo que o episódio de Friends começou, já comecei a rir e meu casulo passou a ter uma temperatura agradável novamente. Fui dormir feliz embaixo de três cobertas e com uma leveza no coração por finalmente ter um dia normal no intercâmbio (acredite em mim, eles são raros).



Alguns dias depois, aqui estou eu: passando por dias de 30 graus novamente (Yaaay! – isso porque Braga não fica contente só com frio, chove todos os dias, vinte horas por dia, e as quatro horas que não chove são horas de estar dormindo...). Chego a casa um dia ao final da tarde depois da aula, coloco uma regata e um shorts para ficar a vontade, e sem muito que fazer resolvo assistir um episódio... “i need a cheeseburger”. Não. Não! Nãããão!!! O que o site estava fazendo? Porque eu tinha que ser premiada com essas frases? O grande problema é que depois de ler aquilo parece que você precisa mesmo de um cheeseburger, podia ser um do McDonalds, ou um X-Salada, hmm delicioso mesmo seria um X-Egg, ou melhor ainda... um X-Bacon! Eu até estava disposta a fritar hamburguers e fazer um duplo cheeseburger em casa. Infelizmente eu não tinha nenhum hamburger no congelador e nenhum jeito de eu comprar um cheeseburger ali naquela hora (preguiçosos entenderão que nem mesmo com uma fome dessas eu iria trocar de roupa, descer os três andares de escada do meu prédio e andar um quilometro até o McDonalds mais próximo da minha casa), só o que pude fazer era ficar emburrada (e com fome) vendo o episódio – e nem pipoca eu tinha pra estourar...

PS1: Sim, assim que eu tive a oportunidade de comer um cheeseburger, eu comi.
PS2: Não, não sou uma comedora compulsiva (eu acho).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

É tudo culpa da oratória

Olhei-me no espelho e me senti tão orgulhosa. Estava preparada para a primeira vez que ia à tribuna na aula de oratória. Eu vestia a camisa pólo do colégio, a saia “pregada” que era peça obrigatória em momentos mais formais, e como era um dia frio somado à minha gripe, o moletom da escola. Nos pés, eu usava um sapato com um salto de 3 ou 4 centímetros. Para completar, resolvi usar um arco com um laço do lado direito da cabeça para segurar a minha franja.

Era a primeira vez que eu ia à tribuna, mas não era o meu discurso que eu ia defender. Iria fazer a leitura da ata da seção anterior, isso porque, naquela seção eu havia sido a secretária. Claro que eu estava com aquele friozinho na barriga por mais que fosse algo não tão importante para o meu desempenho na matéria. Quando cheguei ao auditório, as duas turmas convidadas também iam pouco a pouco ocupando os lugares das primeiras fileiras.

Inicialmente foi aquele blábláblá de oratória, presidente abrindo a seção e afins. E chegou a minha vez de ir ler a ata. Quero deixar claro que eram quase três páginas de Word (Times New Roman, 12, espaçamento 1,5), ou seja, um texto razoavelmente grande. E quero salientar que eu estava gripada. Então cheguei à tribuna com toda a honra, glória e coragem no peito.

O problema é que depois de dois parágrafos, eu senti aquela grande vontade de fungar o nariz, e assim ecoou um “sniiiff” nas caixas de som. Ao meio do parágrafo seguinte, comecei a sentir descer novamente “sniiifff”, no final dele, mais uma vez “sniiiifff”, e nos parágrafos seguintes, conforme mais nervosa eu ficava, parecia que descia mais rapidamente e a quantidade de “sniffff” no microfone por parágrafos estava começando a ficar demais.



Percebi que a gravidade da situação aumentava cada vez mais, e eu não podia simplesmente limpar meu nariz com a mão ali na frente de todo mundo. Não, eu não podia fazer isso, mas achei melhor ao meio da segunda folha sair do microfone, ficar de costas para o público e chorar. Sim! Chorei! Se já estava um fracasso eu fungando ali em alto e bom som no microfone imagina ficar de costas na frente de todo mundo e começar a chorar...

Claro que depois disso fui convidada, pela professora, a me sentar e como cereja do bolo tive que escutar ao final da seção, quando a professora faz os comentários e recomendações: “É... e alguém tinha que ter trazido um lencinho pra tribuna...”

Depois daquilo eu disse “that’s it, i’m going to be good at this shit”. Quando chegou a vez de apresentar meu discurso, eu me dei muito bem, não cheguei perto da nota máxima, mas foi uma das melhores da sala. Desde então eu me tornei obsessiva em ter um bom desempenho nas aulas de português, e eu tentei (de verdade gente) me empenhar ao máximo. O que honestamente às vezes trazia bons resultados, mas muitas vezes não. Quando terminou o ensino médio e não tinha mais aulas de português para acabarem com toda a paciência e fios de cabelo que eu tinha, no meu primeiro semestre da faculdade eu tive uma matéria chamada “Comunicação Escrita” e claro que no segundo semestre me esperava a “Comunicação Oral”. Depois de mais um ano empurrando o português com a barriga (ta bom, nem foi tanto com a barriga assim porque acabei tendo boas notas), eis que chega a hora que eu digo “ufa, acabou, e to nem aí para o novo acordo ortográfico”.

Sim, quando chegou esse momento que para mim parecia tão abençoado, eu comecei a sentir falta de escrever redações e/ou textos criativos. E na época me pareceu uma boa solução escrever um livro, mas enquanto isso não acontece, eu vou me divertindo aqui no blog, e vocês vão precisar me aturar...

PS.: A ideia do livro nunca chegou a sair da minha cabeça e ir pro papel, e eu nem sei se vai sair. Afinal de contas, quando eu pensava no que podia escrever, a ideia era ridiculamente curta, e até agora, para o meu azar, não vi ninguém que ficasse satisfeito com um livro de uma página...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Não Desistir

Um passo de cada vez, é o que dizem. Nunca tive a oportunidade de concordar tanto com essa frase. 18. 36. 35. 33. Essas foram as quilometragens diárias aproximadas que eu caminhei do dia 24 a 27 de Setembro. De longe, a coisa mais difícil que já fiz na vida.

Sai de casa com um objetivo, um sonho: chegar a catedral de Santiago de Compostela fazendo uma parte do caminho português. Quem já havia feito a caminhada me disse que não era necessário preparo físico, “o caminho te leva”.

No primeiro dia saímos de casa muito mais tarde do que queríamos e não foi possível alcançar o objetivo do dia, a partir daí, naquela noite, já sabíamos que os próximos dias ficariam cada vez mais puxados. Afinal de contas, eram 18km que deixamos de andar naquele dia e que seria dividido entre os três próximos. E infelizmente não é possível dizer “ah, 6km a mais em cada dia não é tanta coisa”, cada metro a mais já é demais. Seis quilômetros são aproximadamente uma hora e meia a mais caminhando. Sendo que nem sabíamos se iríamos enfrentar a subida de uma montanha ou a alegria de um caminho com altitude constante.



Foi no final do segundo dia que pensei pela primeira vez em desistir. Meus pés não agüentavam, os joelhos não suportavam mais o peso do corpo e da mochila, e minha mente estava fraca. Aquele dia surgiu as primeiras bolhas nos pés das quais eu teria que cuidar e tentar não pensar na dor. Quando a cidade que era nosso objetivo aquele dia não parecia que ia aparecer, eu sentei, respirei fundo. Chorei. Chegamos ao albergue, deitei na cama e achei que não conseguiria mais andar no dia seguinte, a não ser se fosse com destino a uma estação de trem.

No terceiro dia acordei com um pouco menos de dor do que havia ido dormir. Eu não queria desistir, eu não podia. Não podia dizer ao meu amigo, que aceitou fazer o caminho comigo, que eu não tinha mais forças. Eu tinha que ser mais forte que isso. Nesse dia paramos na farmácia e compramos o que já deveríamos possuir desde o início. O terceiro dia passou mais facilmente, minha mente já estava mais determinada e mais forte. Claro, chorei, mas a vontade de desistir já não era grande. Faltava somente mais um dia, e fui dormir sabendo que a catedral estava a 33km de nós.



No quarto dia, chegamos.

No meio de tanta dor, esqueci de mencionar quantas coisas bonitas eu vi. Por quantas vilas pequenininhas passamos com o chão de pedra e as casinhas feitas de pedra também. Por quantos vinhedos passamos, com o cheiro da uva atingindo nosso olfato, e, como ninguém é de pedra, sentindo o gosto espetacular daquelas uvas fresquinhas do pé. Passamos por cidades um pouco maiores com centros históricos incríveis. Sim, subimos montanhas, mas por causa disso conseguimos ficar mais próximos da natureza e ver lugares com belezas únicas. Esqueci de mencionar que o caminho era repleto por riachos super gracinhas que acalmavam a dor que eu sentia no pé ao colocar ele naquela água gelada. Que conhecemos um povo espanhol muito alegre e simpático. Antes de sair de casa eu li “não abaixe a cabeça durante o caminho”, e foi o que fiz, e por causa disso tive o prazer de visualizar e capturar cada detalhe dos lugares incríveis que passávamos.

E se eu saí de casa com um sonho, só tenho a dizer que voltei pra ela com muitos outros. Com muita vontade de lutar e realizá-los. E, com satisfação, sabendo: eu posso.



O caminho faz coisas com você... Ele te transforma, te faz perceber o quanto você pode agüentar, mostra que não é fácil ganhar uma batalha e muito menos uma guerra. Acima de tudo, te ensina o que é essencial na vida.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Esperar pela minha colega de quarto

Ao me inscrever para a residência universitária, precisei preencher quadradinhos com números que indicavam a minha preferência por um quarto individual ou duplo. Não pensei muito e assinalei os duplos como de maior preferência.

Motivo número 1: Eram consideravelmente mais baratos que os individuais;
Motivo número 2: Vou ser a eterna pré-adolescente amante dos filmes americanos que falam da história de alguém no período universitário, e que muitas vezes tem a sorte de ter o melhor colega de quarto do universo;
Motivo número 3: Também sempre vou ser a eterna amante de Friends, e não que eu não ache a parceria entre a Monica e a Rachel demais, mas eu sempre imaginei ter “um Joey” na minha vida, mas no sentido feminino da coisa: uma colega de quarto que sempre me apoiasse e fosse extremamente parceira, topasse tudo, e ainda fizesse e falasse bizarrices comigo. Enfim, que se tornasse mais uma melhor amiga irmã.

Então chegou o esperado sábado de entrar no quarto na residência. Cheguei, abri a porta, e vi as duas camas na salinha que era o “nosso quarto”. Uma do lado direito e outra do lado esquerdo da janela, cada lado possuía um armário, uma escrivaninha, prateleiras e uma mesinha ao lado da cama. Nenhuma das camas tinha lençol, mas no armário esquerdo encontrei um par de tênis, um pijama e uma muda de roupa. Ainda no lado esquerdo, a escrivaninha tinha uma cópia do livro “O Código Da Vinci”, um par de lentes de contato e mais umas cópias do que parecia ser algum livro da aula. Considerando esses pertences, fui logo colocando minhas coisas na metade direita do quarto. Fui desfazendo a mala, separando as roupas para guardar como eu gosto no armário, pegando os mimos que trouxe de casa e colocando na mesinha ao lado da cama. Colocando nas prateleiras da minha escrivaninha os três livros que trouxe do Brasil e outras coisinhas minhas.

No banheiro encontrei uma escova de dente, que deixei no mesmo lugar, e adicionei ao lugar um potinho com a minha escova e pasta, e um sabonete líquido. Na prateleira do box, encontrei um dois em um (shampoo+condicionador), que botei um pouquinho mais pro lado, e coloquei o que era meu lá.

Aquela primeira tarde passei no quarto, esperando ansiosamente a minha colega, como as aulas começavam em dois dias, ela provavelmente chegaria naquele final de semana. Às 18h ela ainda não tinha aparecido, às 22h também não, e quando deu meia noite achei melhor ir dormir e quem sabe ela apareceria no próximo dia.

Acordei às 9h e umas amigas brasileiras que também estavam na residência me chamaram para as compras, fomos a um centro comercial ali perto, compramos o que precisávamos para limpar a casa e nos alimentar e cerca de duas ou três horas depois eu já estava em casa. Minha colega ainda não havia chego. Almocei. Ela não chegou. Fiquei a tarde inteira fazendo qualquer coisa. Ela não chegou. Dormi, fui ao primeiro dia de aula, voltei para o quarto. Ela não chegou. Naquela segunda-feira à noite decidi sair para um dos eventos de boas-vindas, pensei em escrever uma carta e por em cima da escrivaninha dela, acabei não fazendo isso, mas quando voltei da festa, ela ainda não estava lá. E depois de seis meses vivendo na residência universitária, ela ainda não chegou.

No último final de semana de Junho, que era o mês oficial de deixar a residência, eu viajei. Quando voltei, não havia mais tênis, ou pijama, ou código Da Vinci. Só uma grande inundação de: nunca conheci a dona dessas coisas, a minha ex-futura melhor amiga irmã. Não sei se fiquei triste de não ter vivido a experiência de ter uma ótima colega de quarto e que topasse todas comigo e também chateada de nunca a ter conhecido, imaginando que ela poderia ser uma pessoa incrível, ou se fiquei aliviada de não tido uma colega de quarto que poderia ser a maior chata... Sei que não foi dessa vez que conheci o meu Joey, e acabei sendo Monica antes da Rachel aparecer na vida dela (desamparada sem uma colega de quarto)... Mas também sei que foi ótimo ter pela primeira vez um quarto fora de casa, para eu cuidar e limpar, e estando sozinha eu podia fazer o que eu quisesse a qualquer hora. Ou seja, a primeira experiência de viver fora de casa foi incrível, mas isso já é outra conversa...